O
rock’n’roll espalhou-se por todo o planeta, ganhando características
próprias da cultura dos países que o adotaram. Como não podia
deixar de ser, o Brasil foi um destes lugares que recebeu o rock de
braços abertos, incorporando-o na maneira de ser de nosso povo. Desde
o surgimento do ritmo nos Estados Unidos, os brasileiros aprenderam a
apreciar os grupos e cantores que faziam sucesso no resto do mundo. Já
no final da década de 50 e começo da de 60, Sérgio Murilo e Celly
Campelo recebiam os títulos de rei e rainha do rock nacional, por
causa dos covers que faziam e de suas famosas composições "Marcianita"
e "Broto Legal". Pouco tempo depois, nossos músicos já
começavam a manifestar as influências sofridas pelo sucesso do rock,
compondo músicas neste estilo e, às vezes, até mesmo plagiando os
estrangeiros. O fenômeno conhecido como Jovem Guarda, que conquistou
o Brasil na década de 60, é um bom exemplo de como nossos artistas
utilizavam-se da cultura norte-americana. Os grandes hits de muitos
dos grupos daquela época eram covers traduzidos de músicas
estrangeiras, com arranjos levemente modificados. Cantores como
Wanderléia, Silvinha, Eduardo Araújo, Renato e seus Blue Caps, Jerry
Adriani, The Fevers, Golden Boys e muitos outros, tornaram-se famosos
justamente por causa destes covers. É claro que todos eles tinham
suas próprias canções, que também ganharam reconhecimento do público
daqui mas, sem dúvida, o primeiro impacto sempre era conseguido através
de um cover. Dois dos maiores compositores deste tempo eram Roberto
Carlos e Erasmo Carlos, cujas músicas fizeram muito sucesso e foram
cantadas por quase toda a turma da Jovem Guarda. Na verdade, existia
um grande rodízio de composições feitas e cantadas por todos, como
se a Jovem Guarda fosse uma grande família. A divulgação dos
brasileiros do rock’n’roll era feita através de um programa
televisivo transmitido nas tardes de domingo, chamado justamente Jovem
Guarda. E daí saiu a denominação do movimento. Nesta mesma década
de 60, surgiram outros grupos de rock que passariam a ter grande
importância no desenvolvimento do estilo no Brasil. Mais precisamente
em 1966, o país viu nascer o mais irreverente dos grupos, cuja
vocalista ruiva é considerada, até hoje, titia do rock nacional. Os
Mutantes, formado por Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, nunca
obtiveram grande sucesso comercial, mas seu pioneirismo influenciou
toda uma geração futura. O grupo durou menos de dez anos e Rita Lee
foi a única integrante que conseguiu fazer sucesso com a carreira
solo. No final desta década e começo da próxima, o país viu surgir
uma série de outras bandas, como A Bolha, Bixo da Seda, Casa das Máquinas,
Made in Brazil e O Terço, que nunca chegaram a conseguir manter-se
bem sucedidos, apesar dos dois últimos citados existirem até hoje. O
rock brasileiro voltou à ativa no final dos anos 70 e começo dos 80,
quando surgiu uma série de grupos de diferentes estilos, alguns dos
quais são consagrados até hoje no país. No estilo rock blues,
podemos citar Barão Vermelho (do qual saiu Cazuza), Eduardo Dusek,
Lobão, Rádio Taxi e Azul 29. Dentre os que apostavam em letras bem
humoradas estão Blitz, Ultraje a Rigor e João Penca e seus Miquinhos
Amestrados, além do Camisa de Vênus, que fazia um som mais cru,
totalmente punk, e o Joelho de Porco. Os Paralamas do Sucesso
apostaram na mistura de ska com rock e acertaram, enquanto que os Titãs
já mudaram seu estilo inúmeras vezes, mas continuam fazendo parte
dos mais vendidos no Brasil. A década de 80 trouxe também vários
grupos punks cujas letras de protesto eram cantadas pelos jovens mais
pobres do país, chegando também a conquistar os de classe média e
alta. Ira!, Inocentes, Cólera, Ratos de Porão e Olho Seco são
alguns dos maiores representantes do estilo punk brasileiro. Não se
pode esquecer de citar o thrash metal competente de grupos como Dorsal
Atlântica e Sepultura. Este último só começou a fazer sucesso no
Brasil depois de ter vendido milhares de cópias na Europa durante os
anos 80, tornando-se o maior representante do rock brasileiro no
exterior. Nos anos 90, porém, o samba e o pagode ganharam total espaço
na mídia nacional, obscurecendo ótimos grupos que surgiram no país.
O mercado está praticamente fechado para o rock’n’roll, que anda
encontrando sérias dificuldades para continuar existindo na cultura
brasileira. Mesmo assim, grupos como Raimundos e Angra, apesar de
serem de estilos completamente diferentes (o primeiro é punk e o
segundo é power metal), andam abrindo algum espaço para os que ainda
devem surgir. Devagar e sempre, o rock continua a desenvolver-se por
aqui, chegando até mesmo a ter representantes do black e death metal
brasileiro, que já são conhecidos na Europa. Dentre essa nova safra
nacional estão grupos competentes como o Prime Mover, Pitbulls on
Crack, Zero Vision, Mistifyer, além de inúmeros outros que mereciam
maior espaço no cenário musical brasileiro. Mesmo tendo voltado à
condição de underground, que sempre lhe foi característica, o rock
continua forte em todo o país, onde encontra apoio dos fãs e da mídia
especializada